De quem é a culpa quando os resultados do Google não nos ajudam?

O Google é o dominante absoluto nas buscas, mas isso não significa que todos estejam satisfeitos com sua performance.

De quem é a culpa quando os resultados do Google não nos ajudam? (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)
De quem é a culpa quando os resultados do Google não nos ajudam? (Imagem: Vitor Pádua / Tecnoblog)

Nos últimos anos, uma insatisfação tem sido ventilada em artigos de opinião de veículos importantes. A New Yorker, por exemplo, narra a dificuldade de encontrar experiências legítimas sobre produtos em meio às inúmeras sugestões de compra e anúncios de e-commerces.

Charlie Warzel, colunista do The Atlantic, ecoa o sentimento. Para ele, no Google atual é mais difícil encontrar respostas diretas e confiáveis. Em outras palavras, dá mais trabalho garimpar os resultados úteis.

Uma pesquisa da Semrush com foco nos Estados Unidos traduz em números a frustração de parte dos usuários. Segundo o levantamento, 27,6% das pesquisas precisam de refinamento, sejam mudanças nos termos pesquisados ou acréscimo de outros.

Uma conclusão possível a partir deste dado é que os resultados apresentados não estão cumprindo sua função básica: ajudar o usuário. Portanto, quase 30% dos usuários precisariam tentar de novo.

Talvez seja pouco para bater o martelo de que o Google está pior. Mas também não se trata de um número pequeno. Ainda mais numa época em que o próprio Google admite que parte do público mais jovem prefere fazer buscas em redes de vídeos curtos.

Mas, se os resultados do Google realmente estão menos úteis, de quem é a culpa? Um grupo é frequentemente apontado como o responsável: os profissionais de SEO.

Arruinando a internet

O significado básico de SEO é search engine optimization, ou otimização para motores de busca. Quem trabalha com isso tenta fazer com que sites obtenham um ranqueamento melhor na busca, aparecendo entre os resultados mais relevantes.

O SEO faz parte da estratégia de qualquer canal de conteúdo que queira ser encontrado. Um site existe para ser lido, e quanto mais acima nas buscas ele aparecer, maiores as chances de alcançar esse objetivo.

No Tecnocast 317, conversamos com Pedro Dias, consultor técnico de SEO. Ele elencou as principais modalidades de SEO, que vão desde o conteúdo em si palavras-chave, títulos instigantes, organização da informação às otimizações no código dos sites.

Em essência, as técnicas são apenas boas práticas, e, se tudo der certo, o Google irá recompensar quem as executa. Como todos os produtores de conteúdo esperam por isso, a tendência é que grande parte dos sites pratique alguma forma de SEO.

Por essa razão, é possível que muitos sites acabem semelhantes entre si. As mesmas técnicas e conteúdos vão sendo reproduzidas internet afora, criando a impressão de que o SEO gera uma uniformização da web.

É daí que vem a concepção de que o SEO estaria “arruinando a internet”, como esboçado num polêmico artigo do The Verge publicado em novembro. E, consequentemente, o SEO também atrapalharia a vida de quem só quer encontrar alguma coisa simples no Google.

A defesa do SEO

Para Pedro Dias, essa visão é incorreta. Segundo ele, o SEO se torna um alvo fácil basicamente por ser o elemento comum à maioria dos sites.

A existência de técnicas para performar melhor no Google não significa que o SEO determine o conteúdo publicado. Cabe aqui aquela distinção clássica entre ferramenta e usuário. O SEO é a ferramenta; ela não define o que os publishers colocarão no ar.

Dias bate nessa tecla ao falar sobre notícias, por exemplo.

O SEO pode dar alguns direcionamentos de como conseguir emplacar isso (uma notícia), mas, no fundo, é porque o jornalista que fazer aquela matéria pra ganhar cliques e vender publicidade.

O foco dos criadores deveria ser a formulação de conteúdos úteis para o leitor, e o SEO entra em cena para impulsioná-los. O fato de muitos aplicarem a ferramenta a conteúdos de baixa qualidade não é culpa da ferramenta em si.

A fama ruim do SEO também está relacionada a profissionais que se vendem como especialistas, mas, na prática, exploram erros no algoritmo do Google. Essas táticas até podem fazer com que sites tenham um bom desempenho nas buscas, mas não se tratam de boas práticas, apenas pontos cegos que o Google ainda não consertou.

A questão é que o Google está frequentemente fazendo melhorias em seu algoritmo, de modo que as artimanhas nunca dão certo por muito tempo. O que acontece em seguida é que o erro é corrigido, o tráfego do site cai, e os maus profissionais da área vão em busca de uma nova trapaça.

No já citado artigo do The Verge, este tipo de profissional é tomado como a regra. Se por um lado é verdade que tais práticas de fato estragam a internet, é bastante discutível que elas representem de modo justo as pessoas que atuam na área.

O Google está mesmo pior?

Sobre a suposta piora nos resultados do Google, Pedro Dias convida a uma reflexão sobre o que esperamos da ferramenta.

As nossas expectativas do Google são as mesmas ou são maiores? (…) Pra gente, qualidade e o que supera as nossas expectativas é sempre algo novo, algo que a gente nunca viu antes. (…) E a nossa ambição de querer sempre algo melhor leva a gente a querer que os serviços que a gente usa evoluam de acordo com a nossa expectativa. E muitas vezes isso não acontece.

Dias aponta que o Google faz constantes aprimoramentos na busca. Mas em pouco tempo o usuário se acostuma com eles, de modo que as expectativas estão sempre crescendo.

Este pode ser um dos motivos da impressão de piora nos resultados de busca: o Google ainda não fez a próxima modificação que nos deixará satisfeitos (por ora).

Além disso, cabe apontar que as reclamações em relação ao Google são recorrentes. Em resposta a elas, a empresa faz atualizações em seu algoritmo. Uma das mais famosas foi a Panda, ocorrida em 2011, que chegou a impactar quase 12% dos resultados de pesquisa.

A Panda penalizou sites que criavam conteúdo de baixa qualidade em massa, beirando o spam. O objetivo, claro, era fazer com que essas páginas bombassem nas buscas. Enquanto isso, os sites faturavam alto com publicidade.

Na época, diversas publicações batiam nesse problema. A Business Insider sentenciou que “o algoritmo do Google foi arruinado”, enquanto o TechCrunch declarava que “precisamos de um novo Google.” A Panda chegou para endereçar essas queixas.

Outro exemplo bastante conhecido foi a Penguin, de 2012, que atingiu sites que faziam trocas de links para obter melhor ranqueamento; e o Mobile Friendly Update, de 2015, que penalizou páginas não otimizadas para o mobile.

Não se trata de dizer que o Google não tem falhas, apenas que, ao longo de sua história, ele se mostrou atento às queixas de seus usuários. E que, muito provavelmente, o ciclo de insatisfações manterá o seu curso até a próxima mudança.

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